segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A voz do morto


Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e prata
De filós de nylon

Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais, coitados

Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou o samba

A voz do morto
Os pés do torto
O cais do porto
A vez do louco
A paz do mundo
Na Glória!

Eu canto com o mundo que roda
Eu e o Paulinho da Viola
Viva o Paulinho da Viola!
Eu canto com o mundo que roda
Mesmo do lado de fora
Mesmo que eu não cante agora

Ninguém me atende
Ninguém me chama
Mas ninguém me prende
Ninguém me engana

Eu sou valente
Eu sou o samba
A voz do morto
Atrás do muro
A vez de tudo
A paz do mundo
Na Glória!

A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado


Talvez o melhor disco da carreira dos Mutantes, A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado marca a ruptura do grupo com a Tropicália em busca de uma leitura mais rock. A banda atinge a maturidade artística em um ano trágico para o país, mesmo com a conquista do tricampeonato mundial, no México, em 1970. Além disso,houve a estréia bem sucedida de Rita Lee na carreira-solo. Apesar de tudo isso, os Mutantes produziram um disco absolutamente clássico, cheio de grandes canções.

A vida para os Mutantes estava muito estranha no final de 1969. A ditadura militar, o conservadorismo e as poucas perspectivas para uma banda tão satírica e com uma proposta avançada para os padrões, deixavam o grupo numa saia justa. Por esse motivo, o grupo resolveu dar um tempo após entregar à gravadora um novo disco pronto.

O grupo já era, efetivamente um quinteto, com Dinho Leme e Liminha, embora no encarte do disco o grupo ainda seja creditado apenas ao trio original. Mas o que A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” entregava ao público era algo ousado demais para o Brasil de Médici e da Jules Rimet. Sim, os Mutantes mostrava que estavam afiadíssimos!

Assim começava o disco, com "Ando Meio Desligado", um dos maiores clássicos do grupo e uma das grandes faixas psicodélicas da história. Rita em uma voz baixa, sensual, um piano tocado por Arnaldo e um belíssimo solo de guitarra por Serginho.

O disco causou muita polêmica, a começar pelas fotos da capa e contra-capa. Na capa, reproduz uma ilustração do "Inferno de Dante", de Dante Alighieri, uma montagem feita no jardim da casa dos Baptista.E se a capa era ousada, a contra-capa nem se fala, onde a doce e - aparentemente frágil - Rita divide a cama com Arnaldo e Sérgio, tendo Dinho Leme, ao fundo, como se fosse um guarda-costas tomando café.

Ando meio desligado

(Arnaldo Baptista / Rita Lee / Sérgio Dias)

Ando meio desligado
Eu nem sinto
Meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer

Eu nem vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois do beijo que eu já sonhei
Você vai sentir mas por favor, não leve a mal

Eu só quero
Que você me queira
Não leve a mal

© 1970 Warner Chappell





segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Panis Et Circenses


"Panis et Circencis” (Gilberto Gil – Caetano Veloso), interpretada pelo grupo Os Mutantes. A letra da canção sugere a ruptura entre o cotidiano secular e o desejo de liberdade, o contraste entre o nascer e o morrer, não só dos costumes e tradições, como dos sonhos e das utopias juvenis.

Depois de lançado, em julho de 1968, a Tropicália seria interrompida em dezembro, com as prisões de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Com o fim do movimento, o álbum ficaria esquecido por muitos anos, só sendo relançado quando os seus intérpretes já tinham uma carreira sólida, e alguns deles, tornaram-se estrelas máximas da MPB.

Panis et Circencis
(Gilberto Gil – Caetano Veloso)
interpretada pelo grupo Os Mutantes

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Introdução

Olá, este blog irá servir para o trabalho de literatura do GEO Tambaú, retratando a banda Os Mutantes que foi uma das bandas da época da ditadura militar, e também uma das bandas que protestavam sobre isso.

Os mutantes é uma banda brasileira de rock psicodélico formada no ano de 1966, em São Paulo, por Arnaldo Baptista (baixo, teclado, vocais), Rita Lee (vocais) e Sérgio Dias (guitarra,baixo, vocais). Acrescidos de Liminha (baixo) e Dinho (bateria), os Mutantes mostraram que o rock brasileiro estava antenado com o que de melhor se fazia lá fora, apesar da ditadura militar que proibia tudo, inclusive importar bons instrumentos. É por isso que a volta do grupo, anos atrás, foi bem vista por alguns, já que colocou o grupo em perspectiva mundial.

A banda é considerada um dos principais grupos do rock brasileiro. Além do inovador uso defeedback, distorção e truques de estúdio de todos os tipos, os Mutantes foram os pioneiros na mescla do rock and roll com elementos musicais e temáticos brasileiros. Outra característica do grupo era a irrevêrencia. Se antes dos Mutantes, o gênero no Brasil era basicamente imitativo, a partir do pioneirismo de Arnaldo, Sérgio e Rita, abriu-se o caminho do hibridismo. Os Mutantes iniciou suas atividades em 1966, como um trio, quando se apresentaram em um programa da TV Record, até terminar em 1978 com apenas Sérgio Dias como integrante original. Ao longo destes doze anos, foram gravados nove álbuns - sendo que dois deles, O A e o Z e Tecnicolor, foram lançados apenas na década de 1990. Foi nessa década que foi reconhecida no cenário do rock nacional e internacional a importância dos Mutantes como um dos grupos mais criativos, dinâmicos, radicais e talentosos da era psicodélica e da história damúsica brasileira e mundial.